quarta-feira, 2 de junho de 2010

O massacre de Corumbiara

O texto de jornal da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia apresenta o ocorrido na data de 09 de agosto de 1995, na cidade de Corumbiara, em Rondônia. Apesar de citar fatos verdadeiros e de público conhecimento, a forma como são colocados e a argumentação deixam margem a questionamentos. Tais como os pontos seguintes.

Não nos parece verdadeira a afirmativa de que o mundo inteiro sabe do massacre de camponeses em Corumbiara - RO. Tampouco parece real a afirmação de que terra é igual vida digna. Tecnicamente, é necessário muito mais que simples terra para se viver dignamente. O texto tem base subjetiva, ou seja, apelam a anseios, coletivos, mas pouco concretos para defender a injustiça do latifúndio. Outro ponto pouco aceitável é denominar “a heróica resistência de Corumbiara”. Não parece heróica uma multidão de camponeses ferida e assustada por tortura física e psicológica, pois o texto e as imagens os colocam como vítimas, subjugados: “camponeses assassinados, gravemente feridos, abalados por sequelas físicas e psicológicas, é a imagem inversa do herói”.

O texto não cita em nenhum momento a versão da parte contrária (latifúndio, polícia, Governo de Rondônia) e nem as mortes dos policiais. E como sabemos que toda história tem duas versões, o Governador de Rondônia (na época do massacre) Waldir Raupp em seus discursos culpou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA pelo massacre e atribuiu aos posseiros à responsabilidade por terem emboscado os policiais que estavam cumprindo ordens.

A LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia conta como ocorreu o massacre, mas não apresenta testemunhas (as vozes de testemunhas fortalecem o texto). Também usa argumentos como “a terra é de quem nela trabalha” que podem ser utilizados contra ela própria. Esse pode ser o argumento de fazendeiros. Trabalhar é um termo muito relativo. Por exemplo: um fazendeiro cria mil cabeças de gado soltas numa área de dois mil hectares em que emprega três peões. Este fazendeiro pode inclusive argumentar-se gerador de empregos. Portanto a citação pode ser um contra-argumento em favor do latifúndio.

Além disso, ainda que sejam de conhecimento público as remissões aos fatos e circunstância são vagas. Está clara a posição do redator em defesa dos camponeses (não que não o mereçam).

O texto ficou enfraquecido por não apresentar a ação, a reação ou mesmo o posicionamento de outros agentes: a população apoiava ou condenava a invasão? E desejava a ação da polícia da forma como ocorreu ou lhe era contrária? E que parecer emitiu a Igreja Católica (e outras) frente à possibilidade da tragédia? Teria sido relevante citar que a imprensa registrou (ou não) os fatos. Por outro lado foi omisso por não dizer do processo de desapropriação por que já passava a fazenda Santa Elina no Incra.

Ainda, ressalte-se que retomada da Fazenda Santa Elina, em 2008, pode ser a recapitulação de uma tragédia. E finalmente: não é verdade que as autoridades “até hoje nada fizeram” uma vez que outras fontes atestam que em 2007 o Ministro Paulo Vannuchi articulava com o governo de Rondônia e com os sobreviventes o pagamento de indenizações.

Portanto, cabe apontar que o texto, apesar de apontar acontecimentos verídicos, foi parcial e falho na forma de apresentá-los. Mostrou-os por uma única via e tomou posicionamento, aspecto que não deve ter um texto jornalístico de crédito. Tais aspectos diminuíram-lhe a força do impacto e do convencimento. Embora seja um jornal em prol dos camponeses, caberia uma forma mais distanciada de argumentação.

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