quarta-feira, 23 de junho de 2010

Uso exagerado da tecnologia torna a mente preguiçosa

Aparelhos facilitam o dia a dia, mas têm lado negativo.
Corpo e mente também precisam evoluir.

Ana Cássia Maturano Especial para o G1, em São Paulo
Ilustra psicóloga
Acompanhando as notícias da Copa da África do Sul pelo rádio, ouço o correspondente comentar com o apresentador do programa que, por usar o GPS (Sistema de Posicionamento Global) para encontrar os caminhos em Joanesburgo, estava ficando preguiçoso. Isso porque, ao ser questionado sobre o local em que estava na cidade, não soube responder.
Provavelmente, sem esse aparelho, que orienta a direção a ser tomada, o repórter teria que usar mapas (lendo-os e transformando-os em caminhos), pedir informações a outras pessoas (que geralmente indicam pontos estratégicos) e contar com sua observação e memória. Isso, tendo a noção de sua localização. Quanta atividade mental!
O GPS indica o caminho para se chegar a determinado lugar, facilitando a vida de muitos, principalmente de viajantes e profissionais cuja atividade envolve a locomoção por vários locais, como os motoristas de táxi.
Apesar da importância desse e de outros aparelhos, que facilitam a resolução de pequenos problemas do dia a dia, eles também trazem aspectos negativos para as pessoas, como mostra o caso do repórter que sentiu que estava preguiçoso.
É também o caso do sedentarismo. Já ouvimos muito do quanto o homem se exercitava mais sem a utilização do controle remoto, por exemplo. Ou quando, antes da maioria ter carro, andava-se muito mais.
Estamos sempre procurando facilitar a nossa vida, mas ganha-se de um lado e perde-se do outro. Se as coisas se tornam mais fáceis e rápidas, isso nem sempre traz vantagens. Do mesmo modo que temos prejuízos físicos, também temos mentais: a mente, assim como o corpo, também precisa ser exercitada.
Uma das sugestões para se prevenir o Mal de Alzheimer, tipo de demência neurodegenerativa, é estimular o cérebro através de atividades como palavras cruzadas, jogos de cartas, leituras e outros. Não precisamos ir tão longe. O uso da tecnologia para facilitar o trabalho da mente a torna preguiçosa, pouco hábil e sem destreza.
Adolescentes
Às vezes, encontramos adolescentes que raramente usam o dicionário, nem sempre sabendo como fazê-lo. Quando necessitam saber o significado de uma palavra, tiram a informação da internet, que a traz pronta. Não é difícil imaginar que o uso do dicionário impresso exige da pessoa muito mais em termos mentais que o on-line. Além de necessitar usar de ordenação, tendo que puxar pela memória a sequência alfabética, depara-se com outras palavras que ainda não conhecia.
Ou então, para fazer uma pesquisa escolar, recorre ao Google: lança-lhe uma pergunta cuja resposta vem de inúmeros sites, bastando imprimir a melhor. A biblioteca deixou de ser um lugar para se buscar informações. Antes da internet, os alunos a frequentavam, exigindo deles uma busca ativa em enciclopédias, dicionários e outras publicações. Além de usarem de análise e síntese para escrever o resultado de suas buscas.
E a dificuldade com cálculos simples de matemática? Para que saber a tabuada se a calculadora dá isso pronto? Pensando assim, não tem muito sentido. Mas ao nos darmos conta de que desenvolver o raciocínio matemático propicia o pensamento lógico, a coisa muda de figura.
Longe de achar que a tecnologia é algo ruim. Pelo contrário. Com ela pode-se ter informações sem as quais seria muito difícil avançar no conhecimento do mundo e facilitar o dia a dia (por que não?).
Mas sem exageros. Temos que lembrar que não só a tecnologia tem que ser cuidada e evoluir. Nós também. E isso só conseguiremos se estivermos funcionando a pleno vapor – mente e corpo.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

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